domingo, 23 de novembro de 2008

LIBERDADE

Estado mínimo

“Então os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos pois agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações.
Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor. E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te disserem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me tem rejeitado para eu não reinar sobre eles. Conforme a todas as obras que fizeram desde o dia em que os tirei do Egito até ao dia de hoje, pois a mim me deixaram, e a outros deuses serviram, assim também te fizeram a ti. Agora, pois, ouve a sua voz, porém protesta-lhes solenemente, e declara-lhes qual será o costume do rei que houver de reinar sobre eles.
E falou Samuel todas as palavras do Senhor ao povo, que lhe pedia um rei. E disse: Este será o costume do rei que houver de reinar sobre vós: ele tomará os vossos filhos, e os empregará para os seus carros, e para seus cavaleiros, para que corram adiante dos seus carros. E os porá por príncipes de milhares e por cinqüentenários, e para que lavrem a sua lavoura, e seguem a sua sega, e façam as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros. E tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras, e padeiras. E tomará o melhor das vossa terras, e das vossas vinhas; e dos vossos olivais, e os dará aos seus criados. E as vossas sementes, e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus eunucos e aos seus criados. Também os vossos criados, e as vossas criadas, e os vossos melhores mancebos, e os vossos jumentos tomará, e os empregará no seu trabalho. Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe servireis de criados. Então naquele dia clamareis por causa do vosso rei, que vós houverdes escolhido; mas o Senhor não vos ouvirá naquele dia.
Porém o povo não quis ouvir a voz de Samuel; e disse: Não, mas haverá sobre nós um rei. E nós também seremos como todas as outras nações; e o nosso rei nos julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas guerras.
Ouvindo pois Samuel todas as palavras do povo, as falou perante os ouvidos do Senhor.
Então o Senhor disse a Samuel; Dá ouvidos à sua voz, constitui-lhes rei. Então Samuel disse aos filhos de Israel: Vá-se cada qual à sua cidade.” Livro de Samuel, capítulo 8, versos 4 a 22.
“ Então disse Samuel a todo o povo: Vedes já a quem o Senhor tem elegido? Pois em todo o povo não há nenhum semelhante a ele. Então jubilou todo o povo, e disseram: Viva o rei! “ Livro de Samuel, capítulo 10, verso 24.

Durante séculos, os israelitas não tiveram um governo central. Moisés não lhes legou uma legislação monarquista mas, pelo contrário, estabeleceu que os assuntos deveriam ser resolvidos localmente pelos anciãos de cada cidade, com autoridade sobre as vilas no seu entorno que dela dependiam para defesa militar. Apenas em casos de dúvidas jurídicas maiores as questões deveriam ser levadas aos sacerdotes (ou ao juiz). Não existia uma organização estatal responsável pela administração ou justiça. O Juiz era simplesmente um cidadão comum, reconhecido como líder militar quando as tribos se uniam contra um inimigo externo, formando um vasto exército não profissional, e servia também de árbitro nas questões jurídicas controvertidas que lhe eram levadas (ele não as chamava para si).
Mas, espantosamente, tal nação de estrutura civil extremamente leve e aparentemente desconexa, tinha uma legislação com forte ênfase na justiça objetiva e na proteção aos mais fracos. sem nenhum auxílio de qualquer estrutura burocrática. A Lei Mosaica visava possibilitar a qualquer cidadão israelita recuperar-se economicamente, sendo auxiliado por seus concidadãos, evitando que caísse na miséria. A previsão da Lei era tão ampla, que Moisés declara, conforme o Eterno o inspirou: “não haverá no meio de ti pobre” (se tal Lei fosse cumprida). Espantoso ainda é que tal proteção pudesse existir sem regulação de preços ou controle dos meios de produção pelo Estado (e, em tempos antigos, haviam estados que controlavam os meios de produção, e eram justamente os estados que mais oprimiam os corpos e as consciências dos homens).
Mas a união de uma Lei tão previdente quanto à solução do problema da pobreza, com uma estrutura civil tão leve, parece inacreditável ao leitor moderno. Estamos acostumados a ver as pessoas que se arrogam defensores dos mais fracos, defendendo um estado mais e mais “atuante”, abrangente, totalitário mesmo, ao ponto de se imiscuir na intimidade do pensamento das pessoas, de controlar toda a crítica (seja pela ação direta, seja pela patrulha do pensamento “politicamente correto”). Parece espantoso para nós, pobres reféns da chantagem do vitimismo, a existência de uma nação ao mesmo tempo libertária e defensora dos pobres. Tão espantoso, que não conseguimos enxergar isso, mesmo lendo a Bíblia. Simplesmente não faz parte de nosso universo mental. Que pena …


Perdendo


Numa confrontação entre o Pentateuco, juntamente com o início do Livro de Samuel, contra o livro dos Juízes, parece haver uma forte oposição de idéias entre os seus autores. Os dois primeiros parecem exaltar a estrutura civil leve. Já o livro dos Juízes, fala sobre desordem e desregramento moral do povo, seu desvio da Torah, e as derrotas sob poderes estrangeiros. Finalmente, um Juiz botava ordem na casa e derrotava os inimigos externos. Muitos casos escabrosos, são seguidos da seguinte frase “não havia rei sobre Israel, e cada um fazia o que parecia bem aos seus próprios olhos”. A impressão causada, numa leitura descuidada, é que o escritor lamenta não haver monarquia naquela época.
Mas uma leitura mais atenta de Samuel, indica que o Eterno lamente que ELE tenha sido rejeitado como Rei. Em outras palavras, durante todo o período dos Juízes, Ele não foi aceito como verdadeira autoridade. Seu governo poderia ser discernido, se os israelitas quisessem, no Ensino (Torah) de Moisés, na sabedoria dos antigos, no bom senso, na disciplina mental, na voz da consciência. Apenas quando a situação apertava, o povo se voltava para o Eterno, e surgia um Juiz que derrotava os inimigos e levava-os à obediência à Torah. Sentiam-se desgovernados, pois não governavam seus próprios desejos, mas faziam o que parecia bom aos seus próprios OLHOS, não à sua CONSCIÊNCIA. Por sentirem-se desgovernados, queriam sobre si um rei, vistoso como os de outras nações. Por não entenderem que seu desgoverno era um problema interno, procuraram um governo forte fora de si.
Mas qual foi o resultado? Após apenas três reis governando as tribos unidas, elas se dividiram em dois estados que competiam entre si. Mesmo os melhores reis representavam pelo menos dois problemas:
Eram custosos, pois o sustento do aparelho de estado não é barato.
A existência de um governo central tirava do povo parte de suas responsabilidades. Num certo sentido, um governo forte infantiliza os cidadãos. Prova disto era o fato do povo obedecer ou desobedecer os preceitos éticos e espirituais da Torah conforme os seus reis os obedeciam ou deixavam de obedecer. Suas consciências deixaram de ser árbitro, eles a entregaram aos seus governantes … qualquer semelhança com o que vemos no mundo atual não é mera coincidência.
Quanto aos piores reis, promoviam homicídios, roubos, sacrifícios rituais de crianças, corrupção, idolatria, enfim, eram uma desgraça completa. No final, os dois reinos acabaram sendo conquistados e destruídos por potências estrangeiras. Pela sua maldade, os reis hebreus acabaram causando o mal que o povo temia. Em vez de serem a força da nação, tornaram-se a sua ruína.

PONTOS EM COMUM

Envergonho-me de admitir, mas simplesmente é verdade: existem fortes pontos em comum entre a massa esquerdista e uma PARCELA dos ATUAIS evangélicos brasileiros (e americanos). Veja esta pequena, mas significativa, lista:

1.Pouca percepção da realidade aliada a uma crença inabalável em teorias absurdas (ou provadas falsas);
2.Obediência cega e idolatria a líderes;
3.Falta de disposição para entender (ou mesmo ouvir) opiniões contrárias;
4.Falta de compreensão lógica;
5.Uso de argumentos claramente falsos, para defender posições e atacar adversários;
6.Falta de senso de proporções e de justiça;
7.Crença no poder mágico das palavras;
8.Uso de chavões, julgando estar desenvolvendo um raciocínio;
9.“Ética” finalista (os fins justificam os meios) e desprezo por pessoas que tenham uma ética de princípios;
10.Um desejo gnóstico de negar a realidade;
11.Auto-exaltação e auto-justificação, aliados a um comportamento grotescamente impio;
12.Afetação de humildade e bondade, mas sem deixar de buscar freneticamente poder (pela manipulação) e dinheiro;
13.Comportamento de manada (o que, geralmente, significa alinhamento com o pensamento politicamente correto, para pessoas bem inseridas na cultura geral, ou alinhamento a outras maluquices menos comuns, para pessoas mais ligadas a subculturas);
14.Desprezo pelas pessoas “de fora”;
15.Descaso pela igreja perseguida (cristão em países anti-cristãos). No caso dos esquerdistas, desprezo ativo, mesmo;
16.Desprezo por fontes originais de informação em favor de secundárias.

Mas há diferenças significativas, também. Embora parte dos “cristãos” (evangélicos ou não) se encaixem na descrição acima, continuarão cristãos (na verdade, podem tornar-se verdadeiramente cristãos) ao curar-se desses vícios. Mas um esquerdista que abandonasse todos esses vícios mentais, logo deixaria de crer na papagaiada esquerdista.

domingo, 16 de novembro de 2008

LIBERDADE

A LEI DE CRISTO

Quando Yeshua andava sobre esta terra, não fazia questão de ter um grande número de discípulos. Não ajustava seu discurso ao público, para agradar mais, nem fazia acordo com ninguém. Ser bem visto, ele considera um luxo totalmente dispensável. Em certa ocasião, quando um grande número de discípulos deixou-o, por estranhar seu discurso, ele questionou aqueles que ficaram, se não queriam deixa-lo também.
Um movimento religioso, erigido sobre a doutrina de um homem assim, teria de ser, como foi no princípio, extremamente livre e libertador. Vinha quem queria, ficava quem queria. A doutrina da congregação dos crentes em Yeshua, como o Messias esperado, não foi feita para ser norma institucional, muito menos norma nacional. Sendo um desenvolvimento tardio do antigo judaísmo (e portanto, um irmão dos judaísmos atuais), a doutrina dos apóstolos de Cristo tinha como referência de norma legal nacional a lei de Moisés, e nenhuma outra. A doutrina do Messias nunca foi uma norma que quisesse ou mesmo pudesse concorrer com o Ensino de Moisés. É uma doutrina de aplicação essencialmente pessoal, foi moldada de forma a ser aplicável a uma infinidade de pessoas, situações e lugares.
Ambas são aspectos do culto ao Criador. O ensino de Moisés, primariamente, era também uma norma legal nacional, tanto nos aspectos sociais quanto nos religiosos, mas perdeu, esta vertente normativa, por causa da progressiva diminuição da independência dos israelitas. Então sobressaíram (e também desenvolveram-se) os seus aspectos comunitário, familiar, ético, espiritual e profético, que originalmente, já eram muito mais fortes do que parecia indicar uma leitura ligeira.
Mas sucedeu com a doutrina cristã o contrário do que ocorreu com a de Moisés. A doutrina do Messias era uma compreensão espiritual e profética mais profunda da doutrina mosaica, junto com as conseqüências éticas que lhe seguiam, e que eram aplicáveis tanto a judeus como a não judeus. Mas ao rejeitar os judeus, os gentios, que supostamente estavam seguindo a doutrina dos apóstolos do Messias, perderam a referência do que era aquela doutrina, e passaram a ver mais importância nos seus fracos aspectos institucionais (feitos para congregações, originalmente fracamente institucionalizadas e ligadas entre si por forças mais espirituais que humanas), do que nos seus extensos e fortíssimos aspectos de relações pessoais e espirituais. Não tendo uma base real para esta forte institucionalização, miraram-se cada vez mais na doutrina administrativa romana. Quando de sua transformação em religião estatal, o cristianismo já havia sofrido extensas mutações internas, que obliteravam ainda mais a percepção de suas origens. Transformaram um doutrina da liberdade do coração em um instrumento de estados opressores.
O caminho de recuperação da liberdade dos cristãos é o caminho da desinstitucionalização. É o oposto exato do que propõem os partidários do movimento “uma igreja com propósito”. E é a cópia exata do que ocorre em países onde há perseguição religiosa, como a China. A desinstitucionalização pela qual passou a Igreja chinesa é um bem, provocado por um mal. Mas não é necessário haver fortíssima perseguição religiosa para que ela ocorra. Entreguemos as nossas vidas ao Espírito Santo pois, como dizem as Sagradas Escrituras, onde está o Espírito do Eterno, aí há liberdade. A união espiritual é a verdadeira união cristã. Prego para mim mesmo, pois se eu vivesse isto, estaria ajudando outros cristãos a serem livres. “Sai dela, povo meu”, clama o profeta. Quero também sair da Babilônia, da rede de prender homens, da “sociedade civil organizada”. Se eu chegar a abandonar o mal que há dentro de mim, então poderei ser livre e ajudar a libertar outros. Meu corpo estará na Babilônia, mas meu espírito será livre do maligno, da carne e do mundo.

domingo, 9 de novembro de 2008

LIBERDADE

Um dos argumentos contra a crença no livre arbítrio é o que segue: “Deus teria fechado os olhos para não saber os resultados de seus atos? ”. Segundo tal pensamento, o homem poderia ser livre se o Eterno fizesse um sorteio sobre algo a seu respeito. Este argumento considera liberdade igual a desconhecimento ou indeterminação. É estranho pensar assim. Imagine que eu tomasse algumas formigas e decidisse por sorteio quais deveriam morrer e quais eu deixaria viver. Isto faria destas formigas seres livres? Certamente seriam parcialmente livres em relação à minha vontade pessoal de mata-las ou não, mas não seriam seres livres em si mesmos, seriam apenas formigas como quaisquer outras.
Mas quando falam da liberdade do Eterno, tais pessoas possivelmente não imaginam algo assim. Supõe-se uma liberdade intrínseca, superior à simples indeterminação. Pois bem, alguém pode afirmar que é uma impossibilidade lógica o Eterno criar seres com o mesmo tipo de liberdade que Ele, embora não uma liberdade tão extensa? Alguém pode afirmar que seria moralmente repulsivo ao Eterno criar tais seres? Alguém pode afirmar que a Bíblia nega que Ele tenha criado seres assim? Alguém pode afirmar ter meios lógicos de provar que ele não os criaria, por algum motivo qualquer? Pois é este tipo de liberdade que atribuo aos seres humanos, o que não nega a presciência do Eterno.

UMA VIRTUDE CHAMADA CORAGEM

A MELHOR DEFESA É O ATAQUE
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu; há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de saltar; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de deitar fora; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; tempo de amar, e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz” Livro do Pregador (Eclesiastes), capítulo 3, até o verso 8.
“Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela..” Palavras de Yeshua no Evangelho segundo Mateus, capítulo 16, verso 18.
Sempre me perguntei o motivo da Igreja não ter o poder de defender-se. O diabo tem o poder de colocar seus agentes dentro dela, de corrompe-la por dentro, de faze-la cair em heresias, de promover o mal dentro dela.. Demologia da escravidão (falsamente chamada de “teologia da libertação”), Conselho Mundial Aparelhado de Igrejas, falsos bispos e falsos apóstolos, mercantilismo ... todo tipo de lixo dentro de suas portas. E a história toda não foi muito diferente: heresias, anti-semitismo, concílios cheios de anátemas, acordos com o poder político desde Constantino, o saque de Constantinopla pelos católicos, venda de indulgências, inquisições, torturas, fogueiras, guerras entre católicos e protestantes, seitas gnósticas nos mosteiros e fora deles...
Mas não podemos culpar o Eterno por isso. Ele jamais prometeu defender as portas da Igreja. Se a Igreja está tentando defender as suas portas, já está desobedecendo ordens, pois o Cristo falou das portas do inferno, e é lá, arrombando as portas do inferno, que a Igreja toda deveria estar. Ela foi montada pelo Eterno como um time de ataque muito forte, com um goleiro frangueiro. Só estará segura enquanto estiver no campo adversário. Acordos políticos, meias palavras, patrocínios externos, adaptações filosóficas, tudo isso só enfraquece a Igreja. O início de sua queda foi a tentativa de parecer bem aos olhos dos gregos, reescrevendo sua teologia em acordo com a filosofia destes. Isto fechou as portas para a compreensão das palavras dos profetas, de Yeshua e dos apóstolos no seu contexto judaico, e abriu as portas da igreja para o fortíssimo anti-semitismo grego. Depois disso, queda após queda, até o ponto mais baixo, no início da idade moderna.
A coragem e a prudência de beijam quando se faz guerra no tempo de guerra. Não há prudência nenhuma em virar as costas para o inimigo.
Este texto é uma homenagem à Ivania, que tem coragem de falar o que pensa, mesmo quando pode sofrer por isso. Invejo a sua coragem. Que um dia eu possa ser assim.

UM VÍCIO CHAMADO SOBERBA II

DISCORDÂNCIA DE AVALIAÇÃO
Entre os antigos gregos e romanos, se dizia que a soberba é um vício de tolos e infantis, algo mais digno de pena do que de repreensão. Os cristãos, seguindo o ensino dos profetas israelitas, consideram a soberba um vício terrível e violento, uma afronta ao próprio Eterno. Quem terá razão?
Começarei concordando com os clássicos. A soberba é tão tola e infantil que é de difícil compreensão para um adulto normal. É compreensível em uma pessoa de 10, 12, 16 anos e é possível lembrar-me de como é ser um adolescente assim. Mas parece uma deformidade em alguém com trinta, quarenta, sessenta anos. Parece absurdo alguém viciado em pensar só coisas exageradamente boas a respeito de si mesmo. Digo viciado no sentido moderno, pois só uma atração doentia pode explicar algo assim. Como um adulto são pode permitir-se isso? Ele não sente-se um tanto ridículo? Compreendo a cobiça, a leniência, a procrastinação, a preguiça, a insensatez, a concupiscência, a fornicação, o ódio, a ira, os maus pensamentos, a mentira, a burrice, a covardia, a teimosia, e outras tantas coisas. Mas o mundo interior de um adulto soberbo parece algo tão estranho que é difícil imaginar sua existência real. Entretanto, embora pareça algo improvável, vemos os resultados de sua existência o tempo todo.
Mas depois de ter concordado com os gregos e romanos, terei de concordar ainda mais com os judeus e cristãos. Por mais infantil, ridículo e grotesco que seja este vício, ele é, em primeiro lugar, comum. Topamos com ele como com folhas na floresta. Nos escritórios, nas universidades, nas igrejas, na imprensa, parece que grande parte do que as pessoas fazem é acalentar seus próprios egos. Olhando o modo das pessoas agirem, parece ser algo mais atrativo que grana, que sexo, que a beleza, que a vida. E, por mais estranho que pareça, vê-se essa loucura nos lugares onde deveria prevalecer a razão. Os acadêmicos e intelectuais tem freqüentemente uma sanha por convencer os outros e a si mesmos de terem um valor elevadíssimo. Muito do que parece soberba é, na verdade, medo da desonra, pressão dos pares, ambição calculista, a compreensível concorrência profissional, e até um normal respeito próprio e senso de auto-preservação, mas tirando tudo isso, parece haver ainda doses cavalares de idolatria da auto-imagem.
Em segundo lugar, por ser um vício também no sentido moderno, ele é urgente, violento, louco. As pessoas fazem coisas inacreditáveis por ele, como um viciado em drogas. Ele vai tomando conta da personalidade, destruindo o que há de mais humano, remodelando suas relações, alienando as pessoas de suas próprias famílias.
Em terceiro lugar, justamente por ser ao mesmo tempo grotesco e urgente, ele exige do pecador a mentira. Não a mentira ocasional, mas sistemática. Nada melhor para alguém viciado em pensar bem de si mesmo, que uma visão de mundo que seja coerente com esse pensamento. Como um bêbado ou drogado, que mente sistematicamente e acaba enlouquecendo, assim também a soberba causa demência. Seria sofrido demais uma pessoa pensar “gosto de pensar coisas exageradamente boas a meu próprio respeito”. A medida que a pessoa vai tornando-se mais madura, e vai sendo confrontada com seus próprios limites, defeitos e loucuras, ela percebe que não é tudo isso. Para manter-se soberba, ela terá de criar uma visão de mundo falsa, uma realidade distorcida. É certo que ele faz parte de uma elite com méritos especiais e, preferencialmente, acima do bem e do mal, pois o mal que ele não quer ver em si precisa ser negado. O soberbo é, essencialmente, um alucinado.
Em quarto e último lugar, um soberbo é uma vaquinha de presépio. Alguém em busca de uma falsa realidade, como alguém em busca de uma droga química, sempre encontrará um fornecedor em busca de vantagens. E, mais que fornecedores de drogas, esse fornecedor de sonhos domina a vida de seu cliente. Durante muitos séculos, tais fornecedores foram relativamente desorganizados. Epicuristas aqui, bajuladores ali, seitas de mistério, cortesãos em luta pelo poder. As seitas de malucos como Jim Jones, ou aqueles japoneses que faziam atentados no metrô são exemplos modernos do que se pode conseguir das pessoas quando se diz a elas que são seres especiais, mais merecedores do que os outros homens. Mas um mercado desses não pode ficar desorganizado para sempre. E se fosse possível criar uma visão de mundo que tivesse uma ética totalmente finalista? Contribuir para a causa está acima de qualquer obrigação moral. Pode-se construir um movimento assim como uma seita menor dentro das religiões ou como um fluxo principal por um período limitado de tempo, mas é possível torna-la o fluxo principal de uma civilização inteira? Sim é possível. As seitas socialistas modernas (marxistas) junto com seus aliados (nazismo, fabianismo, globalismos, ambientalismos, cientificismos, bem como o islã radical) tem uma ética totalmente finalista, que permite aos seus seguidores sentirem-se superiores moralmente, mesmo quando praticam os piores crimes. São também, em seu conjunto, o fluxo principal da história contemporânea. Quando digo aliados, quero dizer que todas tem a finalidade de criar uma sociedade em que o senso de realidade é totalmente artificial.
Não é sem motivo que os adolescentes parecem cada vez mais crianças mimadas e os adultos, adolescentes. Mas a infantilização, um dos preços que eles pagam pelo vício, certamente não é o preço principal. Essa promoção da soberba em escala industrial, vista no mundo moderno e contemporâneo parece-me ter sido essencial para fazer dos últimos três séculos um espetáculo de violência assombrosa. Nunca matou-se, prendeu-se, torturou-se, roubou-se tanto, e nunca as pessoas se consideraram tão boas e justas. Este último século poderia ser especialmente pacífico, pois a multiplicação dos recursos materiais deveria diminuir a pressão pela guerra e pelo genocídio. Mas, em nome de “belos ideais”, foi um inferno. Com uma ideia na cabeça e um livro na mão, os homens tornaram-se “frias máquinas de matar”, mas cada um vê a si mesmo como pertencendo ao “o escalão mais elevado da humanidade”, enfim, demônios em pele de gente. Inverter a realidade e as proporções dos fatos, buscar desesperadamente a aprovação das pessoas, mentir até não lembrar mais a diferença entre a realidade e a invenção, e depois declarar que a realidade não existe, nada é louco demais para o homem ideologizado. Até a paz foi seqüestrada, numa época em que quase todo “movimento pela paz” é arma de propaganda de guerra, geralmente a favor da parte mais violenta.
Mas, embora este fenômeno da psiquê contemporânea seja assombroso, é virtualmente invisível para a maioria dos estudiosos. Convencidos, pelos materialismos, da realidade das explicações puramente economicistas, não conseguem ver a incongruência de tanta violência num mundo de abundancia. Mais ainda, não conseguem perceber que, mesmo naqueles lugares em que há carência material, são a violência e irracionalidade da busca do sonho que provocam o pesadelo, pois o conhecimento técnico, há muito, permite a multiplicação dos recursos.
Creio na visão judaico-cristã sobre a soberba e ela é consistente com os fatos da história. E, a bem da verdade, ela não nega percepção dos clássicos, mas engloba-a. A Tanach (Antigo Testamento) reconhece que o soberbo é louco e absurdo. Mas reconhece também que seu interior está cheio de violência. Como o anjo caído, do qual falou Ezequiel.

UM VICIO CHAMADO SOBERBA I

“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.” Palavras de Yeshua (Jesus), registradas no capítulo 7 do Evangelho segundo Mateus.

“E dizia: O que sai do homem, isso contamina o homem. Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissoluções a inveja, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.” Palavras de Yeshua (Jesus), registradas no capítulo 7 do Evangelho segundo Marcos, versos 20 a 23.

“ Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são eles dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; bem como o filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos”. Evangelho segundo Mateus, capítulo 20, versos 25 a 28 .

“Então falou Jesus á multidão e aos seus discípulos, dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Observai, pois e praticai tudo o que vos disserem; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam: Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; e fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas dos seus vestidos, e amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens: Rabi, Rabi. Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre a saber, o Cristo e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestre, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. Porém o maior dentre vós será vosso sevo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado.” Evangelho segundo Mateus, capítulo 23, até o verso 12. Bem entendido que “praticai tudo o que vos disserem” deve ser entendido no sentido de “aquilo que se conforma com o Ensino (Torah) de Moisés”, pois em outros discursos Yeshua (Jesus) renega vários ensinos comuns entre a maioria dos fariseus, e que o Mestre considera contrários ao espírito da Torah.

Diótrefes
Há duas ou três semanas ouvi, na igreja, um sermão a respeito da Terceira Epístola do apóstolo João. Durante a semana, numa reunião na casa de irmãos da igreja, falávamos a respeito, e eu fiz um comentário sobre a ligação entre a maldade de Diótrefes e o seu desejo de poder. Este texto pretende ser um desenvolvimento de tais comentários. É visível, na história da Igreja cristã, que o ensino do Mestre contra a auto-exaltação não foi seguido fielmente. Busco entender como tal oposição entre o Seu ensino e a prática dos seus supostos seguidores pôde ser tão aguda. Vejamos o caso de Diótrefes:
“Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe. Pelo que, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebe-los, e os lança fora da igreja.
Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz o bem é de Deus; mas quem faz mal não tem visto a Deus.” Terceira Carta do apóstolo João, versos 9 a 11.
A descrição que o apóstolo João faz de Diótrefes mostra um personagem deslocado em relação à descrição dos primeiros cristãos, gente generosa, amável e desassombrada. Diótrefes parece reunir em si uma notável capacidade de controle sobre os outros com uma personalidade mesquinha e maldosa. Se não, vejamos: Ele teve poder o suficiente para impedir a igreja cristã em sua cidade, de receber cartas do próprio apóstolo João. Não de um simples bispo ou de um apóstolo no sentido mais genérico, mas simplesmente um dos doze. Mais do que isto, impedia que os irmãos recebessem irmãos de outro lugar, aprovados pelo apóstolo e até mesmo expulsava da igreja os irmãos de quem ele discordava. Quando o apóstolo diz “que quer ter primazia entre eles”, está deslegitimando tal primazia, mas a descrição dos atos de Diótrefes confirma que ele a tinha na prática, apesar de ilegítima. Em outras palavras, Diótrefes seria reduzido a seu real tamanho, quando o apóstolo lá chegasse, mas enquanto isso, os irmãos o viam como maior do que ele realmente era, ou tinham tal medo de seu poder que se submetiam a ele. E seu real tamanho, segundo a avaliação de João, parece ser o de alguém que nem sequer deveria ser considerado um dos irmãos. Fico pensando na multidão de Diótrefes, ao longo de quase dois milênios, que não tiveram um apóstolo João para cortar-lhes as asas. Penso também em quanto tais homens influíram na construção do que hoje é chamado cristianismo.
Impressiona-me a aceitação pelos irmãos da suposta “primazia” de alguém, com supostos poderes para excluir irmãos assim, sem dar contas a ninguém. Isso está em oposição direta ao ensino do Mestre, que havia dito, “a ninguém na terra chameis pai, pois um só é vosso Pai .....”. Mas impressiona ainda mais que o tal “primaz” seja um não irmão, um lobo em pele de cordeiro. Isto faz pensar ... talvez o melhor lugar para procurar os lobos seja no comando dos cordeiros. Vejamos um exemplo:
“O que digo, não o digo segundo o Senhor, mas como por loucura, nesta confiança de gloriar-me. Pois que muitos se gloriam segundo a carne, eu também me gloriarei. Porque, sendo vós sensatos, de boa mente tolerais os insensatos. Pois sois sofredores, se alguém vos põe em servidão, se alguém vos devora, se alguém vos apanha, se alguém se exalta, se alguém vos fere no rosto.” Segunda Carta do apóstolo Paulo (Saul) aos Coríntios, capítulo 11, versos 16 ai 20.
Na Carta do apóstolo Paulo, citada acima, ele dedica os capítulos 10 e 11 e boa parte do 12 a repreender, de forma até um tanto irônica, os irmãos por aceitarem como verdadeiros ministros pessoas que tinham má intenção em seu coração. Parece que a soberba é um característica comum nos falsos mestres, falsos bispos, falsos apóstolos, etc. E, segundo a profecia, isto será pior ainda nos últimos tempos (os atuais?):
“Sabe, porém, isto; que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus. Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.” Segunda Carta do apóstolo Paulo (Saul) a Timóteo, capítulo 3, até o verso 5.
“Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; proibindo o casamento e ordenando a abstinência dos manjares que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças.” Primeira Carta do apóstolo Paulo a Timóteo, capítulo 4, até o verso 3.
Yeshua havia dito “pelos frutos os conhecereis”. Alguns entendem “frutos” como número de adeptos. Assim, o “líder” que tem muitos adeptos é visto como aprovado. Mas pelo critério “a Escritura interpreta a Escritura”, devemos buscar em outros textos o que significa fruto.
“O fruto do Espírito é amor, alegria, paz longaminidade, benignidade, bondade, fé, mansidão temperança.” Carta do apóstolo Paulo aos Gálatas.
“...sois fruto do meu trabalho no Senhor” Primeira Carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, capítulo 9, verso 1.
Como ficamos? “Frutos” são os atos que refletem o interior da pessoa, como indica o primeiro texto, ou número de adeptos, como parece indicar o segundo?
“Mas outros, na verdade, anunciam a Cristo por contenção, não puramente, julgando acrescentar aflição às minhas prisões. Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneria, ou com fingimento ou em verdade, nisto me regozijo, e me regozijarei ainda.” Carta do apóstolo Paulo aos filipenses, capítulo 1, versos 17 e 18.
É claro que sobre tais pessoas, que pregam por motivos injustos, não pode-se dizer que são “árvores boas”. Proponho uma solução possível. A Palavra do Eterno é tão poderosa, que mesmo na boca de uma pessoa com más intenções é capaz, às vezes, de produzir a Verdade no coração de quem ouve. Mas se uma pessoa a prega pelos motivos certos, tal pregação e os seus efeitos são um “fruto bom”, conforme Yeshua (Jesus) quis dizer. Neste caso, é uma obra boa, produzida por um coração já reconciliado com o Eterno.
Resumindo este artigo, o ensino do Cristo e de seus enviados (apóstolos) é que tenhamos cautela em relação aos lobos devoradores que tem aparência de piedade. Este é certamente um ensino do Mestre que nós os cristãos (particularmente nós evangélicos brasileiros) temos desprezado, com amargos resultados. Temo ao pensar quanta paulada na cabeça teremos de levar para começar a aprender esta lição.

ONDE MORA O PERIGO

DIA DA DANAÇÃO
Da forma como muita gente imagina o Dia do Juízo Final, este parece uma prova da parcialidade e impiedade do Eterno. Escolhidos são mandados direto para cima, não escolhidos (ou escolhidos para o fogo), rejeitados sem apelação. Não ouviu falar sobre Cristo? Fogo! O Eterno quis fazer de você um cego espiritual? Fogo!
Ocorre que eu não imagino que seja assim. Imagino que tudo será levado em conta para absolver a todos. Cada fraqueza invencível, cada desinformação, cada influência maligna do meio e dos espíritos do Mal, toda falta de maturidade, tudo será levado em conta a nosso favor. Se pedirá apenas o exercício da fé que foi concedida, e que se tenha andado na luz que já se tinha. Todo tipo de pecado e estupidez poderá ser perdoada. Como diz a Escritura “...não levando em conta os tempos da ignorância..”. Todos terão liberdade total de apresentar tudo que houver a seu favor, terão lembrança completa de tudo, e nada que possa ser contado, será negligenciado. Todo argumento favorável, contanto que seja verdadeiro, sera dito.
Talvez o leitor tenha ficado mais tranqüilo. Andam pintando o Dia do Juízo de forma excessivamente desfavorável ...
Deixe-me falar a respeito de um professor que tive na faculdade. Era inteligente, gentil, compreensivo, justo, e desejava ver o máximo de aproveitamento dos alunos. Suas provas eram com consulta. Após a parte escrita, chamava cada um que ia terminando para a parte oral, quando ele levava em conta o conhecimento dos conceitos e, se possível, melhorava a nota, pois não queria reprovar ninguém que soubesse os conceitos mas tivesse cometido algum engano nos cálculos. Sempre ele estendia a prova além do horário, mas mesmo assim, nós pedíamos mais tempo. Ele não queria, mas insistíamos muito, e a prova acabava durando bem mais. Me lembro dele dizendo: “Porque vocês querem mais tempo? Vocês vão errar mais, e eu terei de diminuir as notas”. Nós estávamos pedindo corda para nos enforcarmos. As perguntas dele, a clareza de seu pensamento quando inquiria, faziam-nos perceber que não sabíamos muita coisa. Era um festival de notas baixas.
Muita gente acha que se o Eterno olhar cuidadosamente as verdadeiras intenções do coração, quase todo mundo ficará bem na fita. Mas é aí que mora o perigo.
“Ai daqueles que desejam o Dia do Senhor! Para que quereis vós este Dia do Senhor? Trevas será, e não luz. Como se um homem fugisse de diante do leão, e se encontrasse com ele o urso, ou como se entrando numa casa, a sua mão encostasse à parede e fosse mordido duma cobra” Livro do profeta Amós, capítulo 5, versos 18 e 19.
Mirar o próprio coração, no espelho sem mácula da perfeição absoluta ... BOA SORTE, amigo. Ou melhor ainda, peça ao Eterno que purifique o seu coração no sangue do Cristo. E que purifique a sua mente nas águas purificadoras da obediência às Santas Escrituras.

domingo, 26 de outubro de 2008

O NÃO CHEFE

Se eu fosse católico romano, eu respeitaria muito o chefe da minha igreja, o papa. O teria como autoridade espiritual sobre qualquer um que se declarasse católico romano. Mas só sobre os católicos romanos. Não consideraria que outros cristãos estivessem em “revolta” contra o poder legítimo. Por que? Preciso falar um pouco de história para que o leitor entenda minha posição.
Para que o papa fosse o chefe legítimo de todos os cristãos, seria necessário que o papado fosse reconhecido em algum momento da história como a instituição de chefia da igreja. Seria necessário que as palavras de Agostinho, “Roma locuta, causa finita”, fossem mais do que uma opinião entre outras. Seria necessário que houvesse real (ou pelo menos teórica) subordinação dos cristãos orientais ao Vaticano, antes do grande “cisma”. Teria havido uma história de documentos oficiais do bispo de Roma mostrando seu poder de mando no oriente.
Mas o contrário aconteceu. Houve flagrante falta de chefia do bispo de Roma sobre os cristãos orientais, ao longo de toda a história. Esta ausência de chefia do bispo romano é um fato tão bem perceptível na falta de documentação que o comprove e na fartura de documentação que prove a insubordinação dos orientais ao bispo de Roma, que é simplesmente uma verdade insofismável. Jamais houve um só metropolitano oriental que considerasse o papa como seu chefe. Na verdade, o suposto cargo de “chefe universal da Igreja” nem tinha nome, visto que a palavra papa, quando entrou em voga, era apenas uma designação para qualquer bispo metropolitano. A carência de qualquer comprovação de chefia universal do bispo romano é tão evidente que uma ou outra simples correspondência entre o bispo de Roma e alguma igreja aqui ou ali, nos primeiros séculos, são apresentados atualmente como prova cabal de seu cargo. Como se não houvessem muitas outras correspondências de apóstolos e bispos diversos a igrejas totalmente fora de sua área de atuação.
Havia uma autoridade que os cristãos orientais respeitavam desde o início. Eram os concílios universais. Inicialmente, sua autoridade se estabeleceu pela ação direta do Espírito do Santo de Israel. Agindo dentro de cada um (e o primeiro concílio foi muito mais aberto do que foram os dos séculos seguintes), convencia-os da verdade, levando a um consenso que era livre realmente, e não uma violência contra as consciências, como o atual conceito de consenso. Pelo hábito, continuou-se a considerar os concílios como autoridade, mesmo quando seu espírito passou a ser (no oposto exato do que ensina a Bíblia) “Não pelo Espírito do Eterno, mas por força e violência”. Nessa luta de foice no escuro, o bispo de Roma era um lutador a mais, nunca a autoridade que tivesse o poder de ordenar o que os outros deveriam pensar. Quando da oficialização da religião do império, o bispo de Roma, pela sua proximidade com o imperador, ganhou um aliado formidável. Mas nem mesmo assim sua palavra tinha mais força que o concílio. O imperador foi muitas vezes o verdadeiro poder moderador, e as decisões dos concílios, acertos que visavam manter algum equilíbrio entre as facções da cristandade para que houvesse unidade política.
Quando da questão “filioque” os cristãos orientais, que nunca foram sujeitos às bulas papais e aos concílios apenas parciais do ocidente, se viram cobrados de obedecer a quem nunca tinham obedecido, crer no que nunca tinham crido, vendo nos cristãos ocidentais um povo distante e estranho, que dizia coisas que lhes pareciam sem muito sentido, visto que séculos de desenvolvimento teológico, filosófico e social os separavam.

BELEZA

Há particularidades tais no universo em que habitamos, tantas que está além de qualquer dúvida razoável que não podem ser coincidências. Tais são as leis que o regem e as relações entre as forças que, contra toda esperança, é possível existir vida. A isto, um crente como eu responde que é fruto da ação divina. Alguns ateus e agnósticos respondem que as coisas são como são, e não devemos nos perguntar o porquê. Uma ducha de água fria na curiosidade e espírito científico. Outros, mais inteligentes, consideram a possibilidade de outras realidades regidas sob leis diferentes, imperceptíveis a nós, seja por estarem separados por distâncias fabulosas (muito maiores que aquilo que chamamos de universo, que parece estar se expandindo), seja por serem universos isolados deste. Em princípio, o número de tais universos seria infinito.
É claro que tais hipóteses, em princípio não são científicas (embora não sejam anti-científicas). Quem as propõem quase certamente não tem esperanças de que tais hipóteses possam, mesmo em princípio, serem provadas. São soluções puramente lógicas, que servem apenas para argumentar contra a implausibilidade de tão grandes coincidências citadas por mim no início. Não objeto nada a que proponham tal solução, reconheço que é legítimo que se argumente sobre coisas lógicamente possíveis (em princípio), mesmo que fora do alcance do método científico. Mas ai do crente que fizer isto, que propor uma solução lógica mas fora do escopo da ciência . . . Obscurantista! Medieval! ... gritarão mil vozes em uníssono . . .

De qualquer forma, A existência do infinito compartimentado parece menos satisfatória à intuição e ao senso estético, do que a existência do infinito integrado. E na maior integração, há auto-consciência.
Mas eu quero mesmo é chegar a outro ponto. O mundo não é apenas habitável, o que já seria muito. É belo. Talvez a estrutura, as relações e os números que regem o universo tenham sido escolhidos de tal forma que não apenas pudesse haver vida, mas para que houvesse também muita beleza. A água, o líquido mais comum para nós, não apenas é essencial para a vida. Ela é extremamente bela. Há beleza em toda parte, nas montanhas, nos vales, nas florestas, no mar, nas cachoeiras, nas ondas, nos seres vivos. Considerando que mesmo os fenômenos de escala sobre-humana, como grandes planetas distantes, galáxias, explosões estelares, que não são acessíveis a vista desarmada, são muito belos, fica uma questão; Terá o universo sido projetado para ser belo?

QUESTÕES SUBSTANTIVAS

A mente humana requer, como qualquer sistema físico de processamento de informações, estabelecimento de prioridades para o processamento destas. Para a análise de qualquer problema, terá de limitar-se a uma pequena porcentagem das informações que poderiam estar disponíveis. Inúmeros detalhes, que no seu conjunto podem ser relevantes poderão ser avaliados apenas depois de compreendidos os parâmetros mais importantes. E uma infinidade de outros detalhes terá de ser deixada de lado, para que não nos distraiamos do cerne das questões mais importantes.
Pois bem, na cidade onde moro, São Paulo, a candidata do PT à prefeitura deve perder esta eleição. Deve perder basicamente por ser o seu adversário um administrador melhor. Nada contra esta decisão do eleitorado, eu também votei em Kassab. Mas vejo que o eleitorado dará a vitória a Kassab por um motivo importante, porém não o mais importante. Permita-me o leitor uma explicação curta sobre isto.
O PT não é um partido com poucas pretensões. Ele pretende simplesmente remoldar a sociedade brasileira. Mas em que sentido? Permita-se o leitor perguntar a si mesmo: O PT é um partido de pessoas que amam a liberdade de pensamento e debate? Ou de pessoas que gostam da concordância conseguida por coerção, medo, compra de consciências, mentiras e pressão? Estou convencido de que tal partido é essencialmente antidemocrático. A própria afirmação do ex-presidente do PT, José Genoíno, de que seu partido é um partido leninista, comparada às afirmações de Lenin, que colocam a liberdade de imprensa e as regras democráticas como apenas instrumentos para a tomada do poder, seriam suficientes para que o leitor avalie o real pendor do PT. Inúmeras outras afirmações de caciques petistas vão no mesmo sentido. Mas se é um partido essencialmente anti-democrático, esta é uma questão central sobre ele, um motivo fortíssimo para nunca eleger um candidato seu.
Talvez o leitor pense que estou exagerando, afinal há políticos de outras agremiações que tem pendor autoritário. Bom, suponho que o leitor não queira mesmo votar em pessoas que odeiam as regras democráticas, seja qual for o partido. Mas vejo diferença aqui:
1.Ser mais ou menos afeito às regras democráticas é em geral uma questão de inclinação pessoal dos diversos políticos, pouco importando a qual agremiação pertençam. Mas no PT, se a orientação central do partido é leninista, a orientação estratégica do partido será no sentido de considerar as liberdades como apenas instrumentos de consolidação do poder, e não como bens preciosos a serem preservados. Dentro deste tipo de pensamento, todo tipo de maldade pode ser planejada usando um discurso “libertário” para implantar coerção e controle.
2.O PT foi desde seu início louvado por grande parte dos jornalistas e formadores de opinião (inclusive a maior parte dos professores) como exemplo de amor a democracia e à moralidade pública. Mas se é um partido com orientação leninista, isto é o contrário exato da verdade. Que uma mentira tão deslavada tenha prevalecido por muitos anos na imprensa, mesmo quando o PT estava na oposição, é uma pequena amostra do seu imenso poder de manipulação. Quem pode mentir com tanto sucesso para tomar o poder, não poderá mentir também para mantê-lo contra o espírito de liberdade e respeito?
3.Uma derrota na cidade de São Paulo dá pelo menos um equilíbrio fraco, atenuando um pouco o imenso poder de fogo do governo federal. Não destrói, mas pelo menos talvez enfraqueça o viés de hegemonia do PT. Melhor a fraquíssima oposição do PSDB e DEM do que nada.
Mas alguns dizem que não há perigo de ruptura das instituições democráticas por serem estas muito sólidas. As instituições brasileiras seriam assim como “freios ABS”, uma segurança contra tentações autoritárias. Não vou discutir aqui se isto é verdade ou não, mas não importa o quanto os freios ABS sejam seguros, só podem salvar vidas se forem usados. Não creio que o povo brasileiro possa ser posto a salvo do totalitarismo se não se importar o suficiente com isto. Quem vota em um político leninista por causa de questões menores, não poderá reclamar se um dia for engolido por um gulag. Lembre-se que as críticas do PT à antiga URSS concentram-se na sua burocracia excessiva. Considerando que o governo da URSS assassinou diretamente mais de 30 milhões de pessoas (fora as guerras por ela provocadas direta ou indiretamente), isto não é crítica, mas cortina de fumaça. Você votaria em um político que, questionado a respeito de Hitler, desconversasse com uma suposta “crítica” ao “burocratismo” nazista? Pois bem, vale a mesma coisa para Lenin, Stalin, Mao, etc.

UMA VIRTUDE CHAMADA BONDADE

Lembro que, quando eu era criança, a bondade parecia-me a própria essência do bem. Julgava as pessoas pela bondade que tinham ou aparentavam e espantava-me que o Todo Poderoso, conforme mostrava a Bíblia, desse muitas vezes mais importância a outras qualidades. Creio que isto é natural de uma criança pequena, sua segurança está firmemente alicerçada na bondade que sente em sua mãe.
Mas não demora muito para a criança perceber que o convívio com outras pessoas exige outras qualidades como firmeza, prudência, respeito, compreensão, coragem, sabedoria, fidelidade, domínio próprio, ordem interna, limpeza mental, modéstia, ânimo, humildade, justiça. Mutas dessas qualidades, sinceramente, são muito, mas muito mais difíceis de serem exercidas que a bondade e são tão importantes quanto. Decepcionei-me comigo mesmo ao longo dos anos, quando fui assumindo responsabilidades e percebendo que embora algumas pessoas considerassem-me bonzinho, eu tinha uma desesperadora carência de outras virtudes importantes. Muita paulada na cabeça para aprender, e não aprendi nem o suficiente.
Mas por falar em virtudes, um engano comum é pensar que os vícios sejam opostos simétricos daquelas. São na verdade perversões das virtudes e é de se esperar que a cada virtude corresponda pelo menos uma forma de corrupção sua, gerada pela sua aplicação desequilibrada (desconectada de outras virtudes necessárias na situação). Considerando que hoje em dia a bondade é arroz de festa, está com a bola toda, é super-hiper-bem-considerada, é natural esperar que a simulem ou pervertam (por seu uso em desconexão com outras virtudes menos bem vistas). Além disso, a atual “moral” propagada pelos formadores de opinião é essencialmente finalista, e concentra-se fortemente na construção de um “glorioso futuro coletivo” promovido por um super-estado-babá e suas ONGs do G e no combate a quem não acreditar muito nessa balela. Professores, jornalistas e escritores estão geralmente na linha de frente da promoção disso. Em tal ambiente, é natural uma promoção ainda mais acentuada da falsa bondade (por perversão ou fingimento).
Só para não deixar o assunto solto no ar, vou dar como exemplo histórico o pacifismo nas nações ocidentais, fortemente promovido por intelectuais e grupos de esquerda, quando do crescimento militar da Alemanha nazista. Milhares de jovens na França, EUA, Inglaterra, foram tomados de um súbito ardor pacifista, exigindo de seus governos acordos de paz que os impedissem de armar-se o suficiente para enfrentar a Alemanha. É interessante que via de regra o militante pacifista não tem a menor idéia dos motivos da escolha do seu objetivo particular. Num mundo de tantos confrontos, como os organizadores de uma passeata escolhem um governo em particular para pressionar? Um pacifista francês da década de 30, vendo uma movimentação geral das classes falantes em “favor da paz”, não sabia realmente porque pressionava o governo de seu país a uma atitude mais passiva, apenas sentia-se bem consigo mesmo, imaginando-se uma pessoa particularmente generosa. Como sabemos hoje, o motivo por que as classes falantes eram “em favor da paz” naquele momento, foi simplesmente um acordo secreto entre Hitler e Stalin, que dava ao primeiro do “direito” de esmagar toda oposição na Alemanha, armar-se até os dentes produzindo secretamente suas armas em território soviético, (em oposição ao estabelecido no acordo de Versailles), e barbarizar à vontade na Europa ocidental e central. Os próprios “intelectuais” que receberam ordens de promover “a paz” não tinham idéia dos detalhes do acordo, e a maioria dos seus colegas simplesmente entrou na onda de “serem bonzinhos” e parecerem afinados com os “progressistas”. Mas um dia a criatura voltou-se contra o seu criador (Stalin), e repentinamente, as esquerdas deixaram de ser “pacifistas” e se uniram na luta contra Hitler. Este caso exemplifica bem o quanto a “bondade” pode ser uma forma requintada e perversa da maldade, quando tornada um ente isolado de outras virtudes como a percepção, prudência, firmeza, humildade, senso de proporções (essencial à justiça) e sabedoria.
Mas a história tem se repetido de novo, de novo e de novo. Muitas vezes, quando eu leio sobre alguma manifestação “pacifista” nos jornais, percebo, pelas informações que já tenho, que grupos estão promovendo e financiando e com que intenções. Via de regra, “pacifismo” tem um lado, o lado dos mais violentos, dos ditadores, daqueles que não podem ser muito influenciados por manifestações públicas. Jamais entraria numa onda dessas sem entender primeiro o que está acontecendo. Em particular, se morasse no Rio de Janeiro, jamais participaria das manifestações “pela paz” daquele sujeitinho apoiado pela Rede Globo e por certas fundações estrangeiras.

MARXISMO INTERNO V

MENTIRAS E VERDADES

VERDADES COMO INSTRUMENTOS DA MENTIRA

Usar verdades como instrumentos de mentira, eis uma técnica antiqüíssima, mas que ainda funciona muito bem. Quando Jesus foi tentado no deserto, o Diabo utilizou uma série de verdades para tentar fazer do Filho do Altíssimo um caído e mentiroso. Era verdade que Jesus tinha poder para transformar pedras em pães. Era verdade que o havia uma promessa do Criador proteger sua Palavra encarnada. Era verdade que o diabo tinha recebido poder sobre esta terra (Adão lhe deu tal poder). Entretanto, a essência do que o Diabo propunha era uma mentira. O Verbo divino não poderia existir longe da vontade do Seu Pai. O Diabo propunha que a Vida dada pelo Eterno se transformasse em morte, que a Verdade se transmutasse em mentira. Esta essência do discurso do Diabo (a morte da Verdade), era defendida e disfarçada com muitas verdades.


ATÉ OS DIAS DE HOJ
E

Os “pensadores” da escola de Frankfurt, um grupo de gnósticos judeus, criou um instituto em Berlim inspirados em um instituto Moscovita, supostamente para defender a livre discussão de idéias (alguém consegue hoje acreditar que Moscou teria apoiado tal instituto, se sua real intenção fosse esta?). Obviamente, a intenção dos criadores do Instituto de Pesquisas Sociais, em Frankfurt era fazer guerra cultural em favor de Moscou. Note bem, fazer guerra cultural em favor de Moscou não significa necessariamente defender publicamente as idéias que Moscou defendia publicamente, nem praticar os mesmos métodos que o governo soviético aplicava internamente. Pois bem, com a ascensão do nazismo, esse pessoal fugiu para os EUA onde se tornaram os pais espirituais da maioria da “intelingentsia” norte americana atual. Foram pais da “liberação sexual”, movimento hippie, do multiculturalismo, do domínio das esquerdas nos meios acadêmicos e culturais, do ódio contra cristãos e judeus, das políticas de apaziguamento em relação a ditadores comunistas (que matavam dezenas de milhões no mundo inteiro e impunham terrível regime de escravidão e privação aos povos por eles dominados) e de feroz enfrentamento a ditaduras não comunistas (muito menos violentas e muito menos fechadas). São os seus filhos espirituais que até hoje defendem o regime do Kmer vermelho (como o mundialmente aclamado Noam Chonsky). São seus filhos espirituais os amigos do presidente do Irã. Seus filhos espirituais são aqueles que calaram a boca, aqui no ocidente, de todos aqueles que fugiam dos regimes comunistas, tratando-os como picaretas, comprados ou malucos. Eles difamaram todos os que denunciavam os crimes socialistas. Eles difamaram sempre todos aqueles pregavam o evangelho de Cristo. Eles difamaram qualquer acadêmico, político e jornalista que pudesse prejudicar o crescimento cultural do marxismo no ocidente. Hoje seus planos tiveram pleno sucesso. É virtualmente um crime não concordar com as teses esquerdistas na imensa maioria dos cursos superiores de humanidades, em quase qualquer lugar do mundo. Protestar contra os crimes comunistas é ser considerado “lacaio do império americano”. Discordar do intervencionismo estatal na economia ou do dirigismo cultural socialista é ser “alienado”. Quanto mais crimes os socialistas cometem, mais louvados como santos eles são. Não ser socialista, é ser “do mal”. Quase tudo aquilo que, há algumas décadas, era considerado por qualquer pessoa instruída como simples propaganda soviética ou chinesa, é hoje ensinado na maioria das escolas do mundo como fatos insofismáveis.


DEFENDENDO VERDADES, MAS DEFENDENDO A MENTIRA

Pois bem, as pessoas que apoiaram a opressão das centenas de milhões que sofriam feroz perseguição nos países comunistas, estes mesmos sempre criticaram a centralização e falta de pluralidade na imprensa dos países não socialistas. Em outras palavras criticam os jornais americanos dizendo que deveriam ser mais abertos, mais interiormente desejariam que cada um deles fosse um “pravda”. Dizem amar a liberdade, mais propõem o total controle do estado sobre as informações. A “pluralidade” que defendem viria de cima, passando pelo crivo da ONU, das ONGs do G e pelos apóstolos do “politicamente correto”. Mas a verdadeira sabedoria diz: A VERDADE EM QUE FALTA O SENSO DE PROPORÇÕES, É MENTIRA. É verdade que nosso jornais ocidentais deveriam ser mais abertos, mas certamente sempre foram muito mais abertos a debate que qualquer dos seus congêneres nos países socialistas. E torná-los mais abertos é o oposto exato de torná-los censurados por um grupo de burocratas ou ongueiros “politicamente corretos”. Os frankfurtianos que são os próprios criadores dessa polícia do pensamento chamada “politicamente correto”, são as últimas pessoas que quero ouvir a respeitos de “liberdade de imprensa”. Assim como Mao, Stalin ou Hitler seriam as últimas pessoas que eu ouviria a respeito de “direitos humanos”.

MARXISMO INTERNO IV

TRAÍRAS

Em outro artigo sobre o marxismo interno, comentei por alto sobre a origem não popular dos líderes e principalmente dos promotores e financiadores das revoluções. O objetivo final do movimento revolucionário (falo assim no singular, porque creio que exista uma unidade de propósitos entre a maioria dos movimentos revolucionários), seja cultural ou político, é poder absoluto. Sua essência parece ser uma revolta íntima contra a existência de limites à ação de seus propositores. É claro que para que estes tenham o máximo poder que possam imaginar, terão de ter poder sobre outras pessoas. Parece bastante natural que um movimento de imposição doentia da própria vontade tenha tido tanta aceitação entre adolescentes e jovens, particularmente filhos mimados de pais abastados ou relativamente abastados. E parece natural também que seus agentes sejam simpáticos a criminosos que tornam a vida dos trabalhadores um inferno.
Entre os defensores das revoluções alguns já disseram explicitamente qual personagem é o seu maior inspirador. Naturalmente, não é um pobre oprimido, que luta por si e pelos seus semelhantes, para ter uma vida melhor. O grande inspirador, chamado por alguns de “primeiro revolucionário”, é alguém que já tinha poder, beleza, riqueza e virtualmente tudo quanto pudesse desejar, mas estava revoltado contra a ordem cósmica por não ser Deus. Por este motivo, criou para si um império baseado na mentira, destruição, roubo e morte e assim, pôde tornar-se um deus. Um escritor muito antigo fala sobre ele. Tomado de inspiração profética, Ezequiel começa falando do poderoso e riquíssimo rei de Tiro, na Fenícia. Mas repentinamente, o Espírito de profecia o conduz a traçar um paralelo entre este rei e um outro personagem muito mais antigo, que foi criado como um anjo de luz. Deixo com o leitor, o capítulo 27 e o 28 (até o verso 19) do livro do profeta Ezequiel. Chocante!!!
Capítulo 27 1 E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: 2 Tu pois, ó filho do homem, levanta uma lamentação sobre Tiro. 3 E dize a Tiro, que habita nas entradas do mar, e negocia com os povos em muitas ilhas: Assim diz o Senhor DEUS: Ó Tiro, tu dizes: Eu sou perfeita em formosura. 4 No coração dos mares estão os teus termos; os que te edificaram aperfeiçoaram a tua formosura. 5 Fabricaram todos os teus conveses de faias de Senir; trouxeram cedros do Líbano para te fazerem mastros. 6 Fizeram os teus remos de carvalhos de Basã; os teus bancos fizeram-nos de marfim engastado em buxo das ilhas dos quiteus. 7 Linho fino bordado do Egito era a tua cortina, para te servir de vela; azul e púrpura das ilhas de Elisá era a tua cobertura. 8 Os moradores de Sidom e de Arvade foram os teus remadores; os teus sábios, ó Tiro, que se achavam em ti, esses foram os teus pilotos. 9 Os anciãos de Gebal e seus sábios foram em ti os que consertavam as tuas fendas; todos os navios do mar e os marinheiros se acharam em ti, para tratarem dos teus negócios. 10 Os persas, e os lídios, e os de Pute eram no teu exército os teus soldados; escudos e capacetes penduraram em ti; eles manifestaram a tua beleza. 11 Os filhos de Arvade e o teu exército estavam sobre os teus muros em redor, e os gamaditas nas tuas torres; penduravam os seus escudos nos teus muros em redor; eles aperfeiçoavam a tua formosura. 12 Társis negociava contigo, por causa da abundância de toda a casta de riquezas; com prata, ferro, estanho e chumbo, negociavam em tuas feiras. 13 Javã, Tubal e Meseque eram teus mercadores; em troca das tuas mercadorias davam pessoas de homens e objetos de bronze. 14 Os da casa de Togarma trocavam pelas tuas mercadorias, cavalos, e cavaleiros e mulos. 15 Os filhos de Dedã eram os teus mercadores; muitas ilhas eram o comércio da tua mão; dentes de marfim e pau de ébano tornavam a dar-te em presente. 16 A Síria negociava contigo por causa da multidão das tuas manufaturas; pelas tuas mercadorias davam esmeralda, púrpura, obra bordada, linho fino, corais e ágata. 17 Judá e a terra de Israel, eram os teus mercadores; pelas tuas mercadorias trocavam trigo de Minite, e Panague, e mel, azeite e bálsamo. 18 Damasco negociava contigo, por causa da multidão das tuas obras, por causa da abundância de toda a sorte de riqueza, dando em troca vinho de Helbom e lã branca. 19 Também Dã e Javã, de Uzal, pelas tuas mercadorias, davam em troca ferro trabalhado, cássia e cálamo aromático, que assim entravam no teu comércio. 20 Dedã negociava contigo com panos preciosos para carros. 21 A Arábia, e todos os príncipes de Quedar, eram mercadores ao teu serviço, com cordeiros, carneiros e bodes; nestas coisas negociavam contigo. 22 Os mercadores de Sabá e Raamá eram os teus mercadores; em todos os seus mais finos aromas, em toda a pedra preciosa e ouro, negociaram nas tuas feiras. 23 Harã, e Cane e Éden, os mercadores de Sabá, Assur e Quilmade negociavam contigo. 24 Estes eram teus mercadores em roupas escolhidas, em pano de azul, e bordados, e em cofres de roupas preciosas, amarrados com cordas e feitos de cedros, entre tua mercadoria. 25 Os navios de Társis eram as tuas caravanas que traziam tuas mercadorias; e te encheste, e te glorificaste muito no meio dos mares. 26 ¶ Os teus remadores te conduziram sobre grandes águas; o vento oriental te quebrou no meio dos mares. 27 As tuas riquezas, as tuas feiras, e tuas mercadorias, os teus marinheiros, os teus pilotos, os que consertavam as tuas fendas, os que faziam os teus negócios, e todos os teus soldados, que estão em ti, juntamente com toda a tua companhia, que está no meio de ti, cairão no meio dos mares no dia da tua queda, 28 Ao estrondo da gritaria dos teus pilotos tremerão os arrabaldes. 29 E todos os que pegam no remo, os marinheiros, e todos os pilotos do mar descerão de seus navios, e pararão em terra. 30 E farão ouvir a sua voz sobre ti, e gritarão amargamente; e lançarão pó sobre as cabeças, e na cinza se revolverão. 31 E far-se-ão calvos por tua causa, e cingir-se-ão de sacos, e chorarão sobre ti com amargura de alma, e com amarga lamentação. 32 E no seu pranto levantarão uma lamentação sobre ti, e lamentarão sobre ti, dizendo: Quem foi como Tiro, como a que foi destruída no meio do mar? 33 Quando as tuas mercadorias saiam pelos mares, fartaste a muitos povos; com a multidão das tuas riquezas e do teu negócio, enriqueceste os reis da terra. 34 No tempo em que foste quebrantada pelos mares, nas profundezas das águas, caíram, no meio de ti, os teus negócios e toda a tua companhia. 35 Todos os moradores das ilhas estão a teu respeito cheios de espanto; e os seus reis tremeram sobremaneira, e ficaram perturbados nos seus rostos; 36 Os mercadores dentre os povos assobiaram contra ti; tu te tornaste em grande espanto, e jamais subsistirá
Capítulo 28 1 E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: 2 Filho do homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim diz o Senhor DEUS: Porquanto o teu coração se elevou e disseste: Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento no meio dos mares; e não passas de homem, e não és Deus, ainda que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus; 3 Eis que tu és mais sábio que Daniel; e não há segredo algum que se possa esconder de ti. 4 Pela tua sabedoria e pelo teu entendimento alcançaste para ti riquezas, e adquiriste ouro e prata nos teus tesouros. 5 Pela extensão da tua sabedoria no teu comércio aumentaste as tuas riquezas; e eleva-se o teu coração por causa das tuas riquezas; 6 Portanto, assim diz o Senhor DEUS: Porquanto estimas o teu coração, como se fora o coração de Deus, 7 Por isso eis que eu trarei sobre ti estrangeiros, os mais terríveis dentre as nações, os quais desembainharão as suas espadas contra a formosura da tua sabedoria, e mancharão o teu resplendor. 8 Eles te farão descer à cova e morrerás da morte dos traspassados no meio dos mares. 9 Acaso dirás ainda diante daquele que te matar: Eu sou Deus? mas tu és homem, e não Deus, na mão do que te traspassa. 10 Da morte dos incircuncisos morrerás, por mão de estrangeiros, porque eu o falei, diz o Senhor DEUS. 11 ¶ Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: 12 Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-lhe: Assim diz o Senhor DEUS: Tu eras o selo da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura. 13 Estiveste no Éden, jardim de Deus; de toda a pedra preciosa era a tua cobertura: sardônica, topázio, diamante, turquesa, ônix, jaspe, safira, carbúnculo, esmeralda e ouro; em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados. 14 Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. 15 Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti. 16 Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras afogueadas. 17 Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti. 18 Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre a terra, aos olhos de todos os que te vêem. 19 Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; em grande espanto te tornaste, e nunca mais subsistirá.

MARXISMO INTERNO III

CONTRÁRIOS
Revoluções são ideológicas, não idealistas, e quem sabe a diferença entre estas duas palavras, entenderá o que vou dizer.
Freqüentemente se diz que as revoluções (isto é, as tomadas do poder por outros grupos e as mudanças planejadas do panorama geral das idéias difundidas) são feitas pelas “massas oprimidas”. Dizem isto por que ficaria mal dizer “este é um movimento planejado por gente que já é poderosa, por interesses ocultos e financiado com muita grana de banqueiros”. É claro que fica bem mais atraente a seguinte frase: “este é um movimento nascido espontaneamente das massas oprimidas, com objetivos claros (aqueles declarados explicitamente) e com grande dificuldade de financiamento”. Alternativamente pode-se não falar nada sobre financiamento, para que o público não pare para pensar nisso.
Mas a verdade bem conhecida (e Marx sabia disso quando disse o contrário) é que, com exceção dos movimentos nativistas, geralmente não há nada de “natural” nas “causas” das revoluções (com isto não quero dizer que não haja interveniência de outros fatores nos movimentos nativistas, mas a causa primeira deles geralmente não é artificial). Não é a luta contra a fome de alimentos, de liberdade, ou de justiça o seu objetivo real, pois geralmente elas levam a uma situação de mais fome, servidão e injustiça. Fossem movimentos naturais, não planejados, que seguissem seu próprio curso pela simples ação de busca do melhor pelo povo, certamente a situação de descalabro posterior (as piores fomes, genocídios e injustiças ocorreram após as revoluções) levaria naturalmente o povo a mudar o rumo dos acontecimentos e restaurar a situação anterior. Mas não é isto que acontece, o povo não tem poder real para fazer isto, de repente descobre que está numa via de mão única. Freqüentemente as revoluções ocorrem após uma época de grande crescimento econômico, que conduziria de forma natural o país a uma situação de prosperidade e é a própria revolução que aborta tal futuro natural, usando como combustível a insatisfação com qualquer crise passageira. Quando o povo acorda, vê que foi criada uma nova casta de burocratas, em cujo topo estão os dirigentes do país, e que ele, o povo, que tinha liberdade de ação antes, não tem mais nenhuma.
Igualmente, as revoluções culturais, criadas pelas mesmas fontes que criam as revoluções políticas são o reverso daquilo que pretendem ser. Costumam se dizer não religiosas, naturais, libertárias e feitas por pessoas desinteressadas em dinheiro, mas tem inspiração em doutrinas esotéricas, são planejadas a longo prazo, produzem coação sobre o povo e são financiadas fartamente por fontes ocultas ou semi-ocultas.

domingo, 28 de setembro de 2008

DESCANSO II

“O domingo é o sábado cristão”. Talvez você já tenha ouvido tal afirmação. Será verdade? Vou citar aqui, alguns argumentos que já li e ouvi, favoráveis a tal tese, lembrando assim de cabeça, e tentarei responde-los um a um:
1.O domingo é, como o próprio nome diz, o “dia do Senhor”, o qual é Jesus Cristo.
Resposta: Já existia no Império Romano um “dia do senhor”, o dia de Mitra, deus importado da Babilônia. O imperador romano era o sumo sacerdote do culto de Mitra, que tornou-se a religião dos militares romanos. O título do imperador, no exercício da sua função sacerdotal era sumo-pontífice.
2.Desde o início os cristãos se reuniam no domingo, como o NT atesta, quando afirma, várias vezes, que os cristãos estavam reunidos no primeiro dia da semana. Portanto deve ser óbvio que eles já havia substituído o sábado pelo domingo, mesmo sendo judeus de nascimento.
Resposta: Todos os autores do NT eram judeus (Lucas provavelmente era prosélito, mas certamente estava sob forte influência judaica). Devemos esperar que sua descrição dos fatos adote o linguajar judaico e é o que realmente acontece. Há quem defenda que o NT (ou grande parte dele) foi escrito primeiramente em aramaico, mas, mesmo que não tenha sido, certamente há uma grande influência de expressões semíticas no grego do NT e é esperado do leitor que conheça os costumes, leis, mandamentos, sacerdócio, cultura, geografia, história e até jurisprudência judaica. É natural, portanto, que a contagem de tempo siga o modo hebraico, que considera o início do dia às 18:00Hs da nossa contagem. Desta forma, parece razoável interpretar que o primeiro dia da semana, citado muitas vezes no NT refere-se ao período entre 18:00Hs do nosso sábado e 17:59Hs do nosso domingo. Deve-se salientar que o próprio conceito de semana é uma peculiaridade judaica, incomum no mundo antigo. Devemos nos perguntar quando seria razoável esperar que os primitivos seguidores do Ungido se reunissem. Sendo judeus os primeiros crentes, gozavam de um dia de descanso garantido no sábado, e poderiam reunir-se à noite, que segundo sua contagem já era o primeiro dia da semana, após as 18:00Hs. Mesmo nas congregações mistas, no mundo helênico, em princípio haviam muitos judeus e outras pessoas interessadas no ensino hebraico, muitos dos quais já freqüentavam a sinagoga antes de conhecerem as boas novas do Messias. Para tais pessoas, o sábado já era um dia de descanso, e a noite de sábado era especialmente apropriada para uma reunião com os irmãos, visto que muitos dos participantes não tinham trabalhado durante o dia. O período diurno do primeiro dia não seria muito apropriado, visto que as pessoas teriam de trabalhar (muitos não dispunham de liberdade para estabelecer seu próprio dia de descanso). O alvorecer do primeiro dia, antes de iniciar o trabalho diário era possível, mas menos apropriado. De qualquer forma, é Lucas quem nos informa, no Livro dos Atos dos Apóstolos, que os cristãos da Judéia, conforme a palavra dos apóstolos Pedro e Tiago, eram observantes dos Mandamentos de Moisés, e isto na segunda metade do primeiro século, quando o apóstolo Paulo foi levado preso para Roma. Portanto, eram guardadores do sábado e seria estranho que eles guardassem dois dias de descanso na semana.
3.A patrística confirma que o domingo era guardado desde o início, conforme:
Justino Mártir (150D.C.) "No dia chamado domingo, todos, quer morem nas cidades quer nos povoados, se reúnem, e as memórias dos apóstolos e escritos dos profetas são lidos tanto quanto o tempo permitir; então, após a leitura, o presidente fala exortando e animando, para que estes exemplos excelentes sejam imitados; então todos nós nos levantamos e nos despedimos em oração pedindo as bênçãos espirituais de Deus."
Eusébio (265 a 340 D.C.) "Tudo o que era nosso dever para ser feito no sábado, transferimos para o dia do Senhor, pois pertence mais apropriadamente a ele, porque tem um precedente, e é o primeiro da fila e é mais digno que o sábado judeu. E foi entregue a nós para que possamos nos reunir neste dia."
Resposta: Infelizmente, muitos dos textos da patrística que chegaram até nós carregam um pesado ranço anti-semita, visto que muitos deles trouxeram do pensamento grego um ódio feroz contra os judeus. Note-se que muitos autores cristãos tentaram desvincular totalmente Jesus de sua nação, dos quais o mais exagerado foi Marcião. Muitos outros, embora menos ilógicos e menos espalhafatosos, tinham a mesma animosidade anti-judaica, que se introduziu tão fortemente nas igrejas cristãs que durante séculos estas instituições têm sido fortemente anti-semitas (como vemos até hoje, quando o CMI aplaude as propostas iranianas de hecatombe nuclear na Terra Santa). Desta forma, muito do que lemos pode ser argumentação anti-judaica. Seria perfeitamente concebível que um autor do segundo século projetasse sua própria visão anti-semita sobre o primeiro século, deixando de perceber que aquele tinha sido um período diferente, quando judeus e gentios, crentes no Messias, gozavam de muito mais comunhão. Mesmo porque, teria sido difícil o anti-semitismo entre os seguidores do Ungido no primeiro século, quando grande parte da igreja é judaica. Este assunto merece um texto inteiro e prometo escrever sobre isto outro dia, se Deus assim o permitir.
4.“O dia do Senhor” é citado explicitamente no livro de Apocalipse, provando que já era guardado no final de primeiro século com tal nome e reconhecido pelo apóstolo João.
Resposta: “O dia do Senhor” é uma expressão comum na Tanach (AT) e refere-se ao dia da vinda do Senhor (a segunda vinda, como a chamamos). É simbolizado pela festa das trombetas, que ocorre no primeiro dia do sétimo mês do calendário judaico. É razoável entender que o judeu João, profetizando sobre as últimas coisas, tenha estado em espírito no “Dia do Senhor”, dia da sua vinda. Também seria razoável supor que a revelação profética ocorreu no dia da Festa das Trombetas, que representa esse evento futuro. Mas alguém argumentará que é razoável supor que a revelação ocorreu num domingo. Há muitas ocorrências na Bíblia de “Dia do Senhor” referindo-se às últimas coisas, mas nenhuma em que se refira ao domingo (a não ser esta, como tais debatedores querem). Conforme o princípio que diz “As Escrituras interpretam as Escrituras”, as duas primeiras interpretações são muito preferíveis a esta última.
5. Os entes do Antigo Testamento são símbolos do Segundo. É bastante óbvio que o sábado, da velha aliança, é simbolo do domingo, da nova.
Resposta: Felizmente não precisamos fazer suposições sobre o que o sábado simboliza, pois a própria Escritura nos diz, nos capítulos 3 e 4 da Carta aos Hebreus:
"Por isso, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai a Jesus Cristo, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão, sendo fiel ao que o constituiu, como também o foi Moisés em toda a sua casa. Porque ele é tido por digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a edificou. Porque toda a casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é Deus. E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar; mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim. Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto, onde vossos pais me tentaram, me provaram, e viram por quarenta anos as minhas obras. Por isso me indignei contra esta geração, e disse: Estes sempre erram em seu coração, e não conheceram os meus caminhos. Assim jurei na minha ira que não entrarão no meu repouso. Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado; porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim. Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos corações, como na provocação. Porque, havendo-a alguns ouvido, o provocaram; mas não todos os que saíram do Egito por meio de Moisés. Mas com quem se indignou por quarenta anos? Não foi porventura com os que pecaram, cujos corpos caíram no deserto? E a quem jurou que não entrariam no seu repouso, senão aos que foram desobedientes? E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade. Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fica para trás. Porque também a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram. Porque nós, os que temos crido, entramos no repouso, tal como disse: Assim jurei na minha ira que não entrarão no meu repouso; porque em certo lugar disse assim do dia sétimo: E repousou Deus de todas as suas obras no sétimo dia. E outra vez neste lugar: Não entrarão no meu repouso. Visto, pois, que resta que alguns entrem nele, e que aqueles a quem primeiro foram pregadas as boas novas não entraram por causa da desobediência, determina outra vez um certo dia, Hoje, dizendo por Davi, muito tempo depois, como está dito: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações. Porque, se Josué lhes houvesse dado repouso, não falaria depois disso de outro dia. Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como Deus das suas. Procuremos, pois, entrar naquele repouso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência. Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar. Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno."
Vemos, do texto acima, que o sábado representa o descanso que o crente alcança no Messias, através da fé.
Alternativamente, outros eventos proféticos de descanso (o milênio e o mundo vindouro) podem ser também representados pelo sábado. Mas a interpretação de que ele simbolize o domingo, além de não bíblica, é totalmente estranha, visto que as coisas físicas da Primeira Aliança representam sistematicamente realidades espirituais. Se o sábado representasse o domingo, seria o único caso de um ente da Primeira Aliança representando um ente seu igual (um dia representando outro dia) e não um seu superior. Acho que nem preciso referir o quanto a primeira interpretação (que é tirada diretamente da Bíblia) é superior a esta última.
6.O sábado é o único dos Dez Mandamentos da Velha Aliança que não foi confirmado por Jesus.
Resposta: As afirmações de Yeshua (Jesus) contidas nos evangelhos, são normalmente parte de debates com mestres da lei ou ensino ao público judaico. Não são ensinos sistemáticos, mas sim, ensinos ditados pela necessidade da hora. Sendo o mandamento do sábado rotineiramente cumprido pelos doutores e pelo povo, não era necessária a sua confirmação, visto que não era posto em dúvida e era bastante respeitado nessa época. Embora não tenha sido confirmado explicitamente pelo Messias, é fato conhecido que o Mestre cumpria estritamente o calendário religioso, e não há registro de que tenha descumprido o descanso sabático injustificadamente.
7.Jesus não guardava o sábado, e induzia os judeus a não guarda-lo.
Resposta: É espantoso que cristãos tentem atribuir ao Messias o descumprimento dos Mandamentos (como faziam seus inimigos, que o mataram). Mais espantoso ainda, por negarem as próprias Escritura, as quais declaram que “Ele cumpriu toda a Lei” . Quanto à guarda do sábado, ao ser interpelado pelos seus inimigos, Ele jamais respondeu dizendo que o sábado não devia ser guardado. Pelo contrário, em todas as suas discussões ele argumentou dentro da jurisprudência judaica, provando que sua forma de guardar o sábado era superior à de seus adversários. Vemos isto nos seguintes textos:
“E aconteceu num sábado que, entrando ele em casa de um dos principais dos fariseus para comer pão, eles o estavam observando. E eis que estava ali diante dele um certo homem hidrópico. E Jesus, tomando a palavra, falou aos doutores da lei, e aos fariseus, dizendo: É lícito curar no sábado?'
Eles, porém, calaram-se. E tomando-o, o curou e despediu. E disse-lhes: 'qual será de vós o que, caindo-lhe num poço, em dia de sábado, o jumento ou o boi, o não tire logo?' E nada lhe podiam replicar sobre isto.” Evangelho segundo S. Lucas, capítulo 14.
Aqui, Ele argumenta de acordo com a jurisprudência judaica que afirma a licitude de salvar a vida de um animal no sábado. A Torah considera a circuncisão como justificativa para a quebra do sábado, e de acordo com a interpretação judaica, a circuncisão é uma cura. Onde se pode o pouco (uma pequena cura) se pode o muito (uma grande cura). Portanto, todas as curas executadas por Yeshua no sábado estão justificadas dentro da Lei.
8.Jesus induzia os judeus a abandonarem o judaísmo.
Resposta: Jesus seguia freqüentemente uma jurisprudência diferente da adotada pela maioria dos rabinos. Isto é assunto para um artigo bastante mais longo, mas adianto que seus ensinos são fortemente fundados em interpretações de rabinos anteriores. Adotar uma jurisprudência judaica menos comum é bastante diferente de se opor aos mandamentos de Moisés. Mesmo o leitor descuidado do NT perceberá que Yeshua falou sobre como apresentar os sacrifícios, como entregar dízimos e ofertas no templo, ordenou a apresentação de leprosos curados aos sacerdotes, pregou em sinagogas (e no próprio Templo), teve zelo pelo Templo, cumpria as festas judaicas e argumentava com base nas Escrituras judaicas. Tais atos não parecem os de alguém interessado em destruir a Torah. Na verdade, declarou explicitamente que não veio para destruir a Torah, mas para cumpri-la (Evangelho Segundo S. Mateus, capítulo 5, verso 17).

LUTA - Texto da Ivânia

Apenas dizer que o mal é aquilo que você faz ou deixa de fazer, é tornar simples algo que, não só não é simples, mas também envolve razão e busca diária da presença divina, para que a presença maligna não se torne mais presente que a presença divina. Diante da presença divina vem a lembrança de que você está passando por uma luta todo o tempo em que estiver vivo, pois até mesmo Jesus, sendo o primogênito de Deus, teve seus quarenta dias de amargura, tendo sua mente atormentada pela presença maligna e suas tentativas de penetrar sua mente com sentimentos de prazer e poder, já que o Diabo, não sendo onisciente, não poderá conhecer seus pensamentos se estes não forem inspirados por ele mesmo. O objetivo do Maligno é controlar as pessoas, e se alguém aceita as sugestões dele como se fossem seus próprios pensamentos, dá abertura para esse domínio.
Diz a Palavra de Deus (a Bíblia) que devemos ser rápidos no ouvir e tardios no falar, guardando assim nossa mente e coração. Nossa mente desenvolvida tem maior potencial, inclusive para o mal. Penso que, se o Senhor quisesse que soubéssemos os pensamentos alheios, teríamos todos essa capacidade de penetrar a mente humana. Logo, não podemos ter essa capacidade, por-que somos seres separados de Deus, perdidos em corrupção e vaidade.
Pense no perigo de alguém conhecer todos os seus pensamentos. Se isso nos deixa aterrorizados, então porque não aceitamos o fato de a palavra de Deus estar correta, quando diz que, melhor é ouvir do que falar. Quando falo torno-me frágil pelas minhas palavras, pois me dou a conhecer por outra pessoa, e quem disse que devemos fazer as outras pessoas conhecedoras de todos os nossos pensamentos?.
Além do fato de que, quem fala menos aprende mais, devemos prestar atenção também no fato de que, pensamentos nossos podem virar armas contra nós, usadas pelos nosso inimigos. Nesse caso específico, o diabo. O que o diabo mais deseja é conhecer os pensamentos do homem, para poder agir sem culpa, pois ele já fez isso no passado. Se não somos confiáveis para conhecer os pensamentos uns dos outros, porque nos revelaríamos o tempo todo a outras pessoas, em conversas vazias e ladainhas sem fim.
Guardar pensamentos é portanto guardar a alma; claro que devemos ter amigos para conversarmos, para nos congratular e desabafar, mas quem disse que devo dizer o tempo todo o que vou fazer, e como vou fazer?.
EXEMPLOS: na Bíblia o diabo tenta, o tempo todo, saber os passos de todos, até mesmo do próprio Jesus; mas aqueles melhor preparados e inspirados por Deus não caíram em sua lábia.
Profetizaram ao apóstolo Paulo para que fosse para determinado lugar, mas esse tomou outro rumo sem dar satisfação a ninguém. Jesus, todo o tempo em que esteve no deserto, foi indagado com propostas para que se confundisse e respondesse tudo o que sabia que iria fazer; mas Ele se manteve calado, escondendo do Diabo seus planos e ações.
Quando Jesus aparece, logo os endemoninhados gritam: "tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!!!" Mas Jesus manda que se calem; ele não admite que os espíritos imundos dialoguem com ele, afinal essa é uma condição privilegiada. Pois conversas geram intimidades, e intimidades geram conhecimentos de um com outro, e o Filho de Deus não desejava ter comunhão com demônios, muito menos que eles o conduzissem em conversas a fim de conhecer seus passos.

A NATUREZA DO ETERNO

Uma questão freqüentemente (mal) colocada no meio evangélico é se o Bem é bom porque O Eterno o aprova ou se o Eterno o aprova por que é bom. Um argumento a favor da primeira possibilidade é que nada existe “antes” do Criador de todas as coisas. Portanto, não pode haver nenhum Bem absoluto anterior a Deus. Ou dizendo de outra maneira, Deus não é governado por nenhum ente fora dEle. Não pode portanto subordinar-se ao Bem, à Lógica ou a qualquer outro suposto Ente pré-existente. Tal argumentação é o cerne da doutrina calvinista, em suas múltiplas formas. O leitor, sabendo do meu arminianismo, já deve estar prevendo minha oposição a tal idéia. Em sua forma mais pura, tal idéia faz do Eterno o autor de todo mal e impede que o Bem seja observado pelo homem, visto que todas as coisas ocorrem por determinação de Deus e tudo que Deus faz é bom por definição. Incidentalmente, tal visão do mundo proíbe que se siga a máxima bíblica, escrita pelo salmista: “provai e vede que Ele é bom”. O que é verdadeiro por definição, não pode ser provado.
A visão do “deus oculto” de Lutero, um ente que me parece puro capricho e nenhuma bondade, é talvez a forma mais forte dessa doutrina. Em sua base, uma especulação escolástica anterior de pensadores que não podiam conciliar a existência de algum caráter divino, com Sua liberdade. O “deus livre” de Lutero, seguindo estas especulações escolásticas, é um deus sujeito a seus próprios caprichos.
Um parêntesis para uma reminiscência. Há muito me chama a atenção um texto bíblico em que o Eterno declara “Vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR, e meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá. ” (Livro do Profeta Isaías, capítulo 43, verso 10). Quando eu era criança, tal texto parecia uma referência cronológica, e fazia parecer que houve um tempo em que não existiu deus algum. É claro que eventualmente, temos de abandonar a visão cronológica sobre a Eternidade, e tais questões deixam de se colocar assim.
Mas voltemos a Lutero e aos Calvinistas. Um dos elementos centrais de sua doutrina, embora talvez eles mesmos não tivessem noção disso, era a “simplicidade de Deus”. Este era um princípio adotado generalizadamente entre os teólogos cristãos, e não é auto-evidente nem bíblico. Sua origem, até onde os historiadores da filosofia discernem está na filosofia grega (muito posterior, portanto, às origens do pensamento judaico sobre Deus). A idéia de que Deus é simples entrou na teologia cristã diretamente da filosofia grega e é irrelevante para nossos propósitos debater se e quando ela teve alguma influência no pensamento judaico. Cabe aqui um parêntesis: A discussão entre judeus e as correntes principais da teologia cristã não é sobre a simplicidade da essência de Deus. A discussão é sobre se há mais de uma pessoa em Deus, o que não afeta a questão que discutimos aqui.
Sobre certos entes, que muitas vezes a filosofia e a intuição consideram como preexistentes (o Bem, o Amor, a Lógica, a Justiça, etc), minha percepção pessoal é que eles preexistem, não isolados, mas em relação uns com os outros. Além de existirem em relacionamento, existem em uma pessoa (conforme nos ensina a Bíblia), a qual chamamos de “O Eterno” ou Deus. Portanto respondo à questão inicial dizendo que O Eterno quer o bem por que isto é bom, mas seu critério do que é bom está dentro de si mesmo, não por ser Ele um ser caprichoso, mas por ser Ele a própria personalidade da Bondade. A afirmação do apóstolo João “Deus é amor”, poderia ser escrita, segundo o meu pensamento, como “Deus é Amor”. É um relação ontológica, não a descrição de uma característica.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

PRAZER, PODER E GRANA

Alguns dizem que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Afirmam isto escudados em um texto bíblico, no qual a palavra traduzido em algumas Bíblias como “todos”, pode ser (e é, em outras traduções da Bíblia) traduzida também como muitos. Atualmente esta interpretação (sobre o dinheiro ser a causa de todos os males) é hoje muito difundida, por influência do pensamento marxista, que vê a vida humana centralizada na economia.

Mas, como são as pessoas reais, que o leitor conhece? O que eles querem? Provavelmente o leitor conhece pessoas que buscam coisas bem diferentes, mas que podem, na sua maioria serem resumidas em: evitar o desconhecido (preservação da vida e fuga de situações imprevisíveis, para sí mesmas e para pessoas próximas), busca do prazer (incluídos aqui os chamados “prazeres elevados”, como os intelectuais e espirituais e até mesmo a sensação de dever cumprido e o saber-se seguro, bem como ter confiança no bem estar de seus queridos) e fuga do desprazer (incluídos aqui a culpa e a percepção da própria desimportância, e a preocupação com sua própria segurança e com a de outros). Eu poderia falar também de outras fontes de impulsos dentro do homem, causas espirituais, mas deixo isto para outro dia, pois não afeta 'grosso modo' a argumentação. Adianto apenas que entre os impulsos mais importantes de ordem espiritual, está a vocação, uma percepção íntima de que há um caminho a seguir, e a intuição, uma percepção de realidades não acessíveis aos sentidos físicos ou à inteligência.

O poder é uma questão secundária. Pode trazer alguma sensação de prazer (que algumas pessoas apreciam demasiadamente), mas é fundamentalmente um MEIO para alcançar objetivos (entre eles, alcançar prazeres e evitar desprazeres). Quanto ao dinheiro, é uma forma particular de poder, cambiável até certo ponto por outras formas. Uma característica peculiar do dinheiro é poder ser acumulado e trocado por outros entes no momento mais adequado. Isto naturalmente traz uma certa sensação de segurança em relação ao futuro.

Para grande parte das pessoas, as escolhas sobre que objetivos seguir acompanham efetivamente a percepção daquilo que realmente lhes falta. Via de regra, o acumulo de dinheiro para garantia futura é deixado em segundo plano em relação a objetivos mais preementes, como educação e saúde dos filhos, e mesmo seus prazeres diários. Via de regra, quando as pessoas sacrificam seus objetivos de curto prazo (em particular, alguns prazeres) para acumulo de dinheiro, visam algum objetivo mais concreto, como um investimento em particular, que possa eleva-las a um novo patamar de segurança e/ou oportunidades, ou bem estar no trabalho (o sonho de não ter chefe, por exemplo).

Entretanto, uma parcela importante das pessoas gasta seu dinheiro para satisfazer necessidades menos óbvias. O ser humano busca ser aprovado, ser admirado, reconhecido, particularmente na adolescência, mas muitos continuam sentindo tal necessidade de forma muito forte até uma idade muito avançada. Grande parte do esforço e do dinheiro, que não deixa de ser uma forma de esforço acumulado, de uma pessoa pode ser gasta em vaidade (que significa vazio), isto é aparência. Pode ser aparência física, percepção de ser bem aceito pelo grupo, “saber” (“intelectuais” muitas vezes são pessoas doentiamente vaidosas) ou até mesmo a aparência de “pensar as coisas certas”. O que seria da religião do “politicamente correto sem o poder da vaidade? E também, sem o poder da ameaça de retirar das pessoas o seu bom nome?

As pessoas que tem bastante dinheiro utilizam apenas uma parte relativamente pequena na sua própria manutenção e de suas famílias. Grande parte do dinheiro é investido no próprio negócio. Quem vê de fora talvez imagine uma ambição maluca de tentar ganhar muito mais dinheiro do que pode gastar. Por que quem já é rico, e por qualquer padrão razoável já tem segurança econômica, buscaria aumentar seu capital? Sejamos razoáveis, só pessoas de mente muito anormal despendem todo seu esforço em algo que já tem de sobra. Quando se vê um rico investindo em seus negócios, ele busca outra coisa diferente do dinheiro. Alguns buscam a realização de provar a sí mesmos ou a outros o seu valor, sua capacidade de construir um negócio grande, que produz riqueza para muitos. Pode ser o desejo genuíno de mudar algo na economia. Talvez alguém tenha pensado por muito tempo “deveria existir tal ramo da industria neste país, isto está fazendo falta”. Há um certo componente de idealismo nas motivações de muitos empresários, o que às vezes pode tornar-se um óbice à melhor condução dos negócios.

Para muitos homens muito ricos, a auto-glorificação, o culto a sua própria grandeza ou a obtenção de poder acabam por tornar-se objetivos primordiais. Muitos ficam apenas na auto-glorificação, na qual esbanjam sua riqueza, conforme o ditado “pai rico, filho nobre, neto pobre”. Para outros, conforme as oportunidades e temperamento, a riqueza, antes que se esgote, compra o poder, como nos ensina a saga dos Medicis.

ENTENDENDO A HISTÓRIA RECENTE SOB NOVA VISÃO


Tente o leitor reinterpretar a história recente entendendo que vários impulsos diferentes movem os seus atores. Entenda o poder das necessidades psicológicas (principalmente a necessidade que as pessoas tem de verem a si mesmas como superiores, moral e inteletualmente, e verem seu “pensamento independente” apoiado pelos seus pares). Entenda a profunda necessidade de agradar (mesmo daqueles que se dizem “contracultura”) e a esperteza daqueles que sabem utilizar as necessidades dos outros. Muitos fatos visíveis ao leitor, que deveriam ser “ignorados” ou minimizados numa leitura 100% economicista, fazem todo sentido nesta nova interpretação.

Sob tal compreensão, é estranho chamar de “capitalismo” a crença nas virtudes da liberdade de mercado. Capitalismo seria o sistema que privilegiasse os proprietários de capital, dando a eles o máximo de garantias de manutenção da riqueza e poder para si e para seus filhos. Ora, em um país onde haja real liberdade de mercado, há riscos reais de grandes perdas para os proprietários de capital, e vê-se a toda hora grandes empresas afundarem e novas fortunas surgirem. É uma grande mentira que tal sistema engesse as pessoas e as famílias na sua situação social e econômica. A rigor os sistemas que buscavam preservar (e preservavam) no passado a situação econômica e social dos mais ricos e poderosos foram todos sistemas de forte intervenção estatal. Há um sistema hoje em dia que funciona assim. Uma aristocracia, dona do país, forma uma casta de privilegiados, que embora lutem entre si pelo usufruto dos bens do país e do poder político, são aliados em explorar a casta dos trabalhadores. Seus filhos casam entre si e recebem dos pais o dom de pertencerem à casta dominante. Embora os bens nacionais não sejam considerados propriedades particulares de cada membro da casta dos aristocratas esta, em conjunto, goza de seu uso, deixando para a casta trabalhadora apenas o suficiente para a manutenção (e muitas vezes, nem isso). Para manterem o sistema funcionando devem manter a casta dos trabalhadores sob forte e constante vigilância, terror e desinformação. Ajuda bastante a criação de um mito de vida gloriosa futura para a casta trabalhadora e de um suposto passado de lutas generosas e desinteressadas por parte dos membros da aristocracia. Também não se prescinde do uso de inimigos externos que estariam buscando destruir e escravizar a nação. Tal sistema pode funcionar tanto sob a égide do internacionalismo, como do nacionalismo e freqüentemente se desenvolve para um sistema de empresas “privadas” dos filhos dos oligarcas, uma espécie de “capitalismo de estado”, com fortíssima intervenção estatal, apesar da aparência de livre mercado. Na sua forma pura, tem sido geralmente chamado de socialismo e na sua forma desenvolvida, é muitas vezes chamado de fascismo. No fundo, apenas o renascimento dos antigos sistemas aristocráticos, em forma muito mais violenta e opressiva.

Como o leitor talvez tenha notado, alterei minha auto-descrição de “pró-capitalista” para “partidário da liberdade de mercado”. Atende melhor a minha atual compreensão do que realmente significam tais palavras